domingo, 15 de agosto de 2010

Por entre as cortinas

"...Um raio amarelo do sol nascente atravessava oblíquo os pés da cama e iluminava a lareira, onde fervia ruidosamente a água da caçarola. No pátio, [...], porém débeis gritos de crianças ainda flutuavam no ar, vindos da rua.
Winston ficou a meditar vagamente se no passado abolido fora normal dormirem numa cama assim, na fresca de uma noite de verão, um homem e uma mulher sem roupa, fazendo o amor quando quisessem, falando do que bem entendessem, sem sentir nenhuma obrigação de levantar, simplesmente largados no leito ouvindo os ruídos pacíficos lá de fora. Não era possível que tivesse havido uma era em que tais coisas fossem comuns..."

1984 - George Orwell

14 de Agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Das pequenas verdades da vida

Deitado no escuro parecia estar flutuando junto daquela mulher, acima do mar de luzes que era a cidade ao longe.
Conversa não se ouvia mais, haviam-se esgotado os assuntos há horas, mas nem tudo pode ser dito com a voz.
A noite fria e silenciosa - somada aos milhares de pontinhos brilhantes, cúmplices que confundiam-se com as estrelas no céu, causavam um efeito estranho, inspirava a reflexão, como a sensação que antecede uma epifania. Foi aí que olhou pra cima e descobriu o por quê.
Nunca antes ficara sem fôlego diante da beleza da lua.

Talvez a vida tenha um motivo, afinal. Devem ser as pequenas coisas que fazem você encontrar lá dentro umas verdades que nem lembrava mais que existiam.
O recado já estava refletido nos olhos dele, mas mesmo assim pegou um papel, escreveu e entregou.

"Veja bem, mulher, o que eu só agora descobri:
um pedaço de mim que ainda há pouco batia em vão."