domingo, 30 de agosto de 2009

Já te aconteceu?

Acontecia sempre a mesma coisa:
Ele fazia planos, sorria, a inspiração vinha avassaladora e ele se via a compor mentalmente, na falta de papel ou algo para escrever.
E escrevia as coisas mais incríveis que conseguia imaginar, deleitava-o a expectativa da crítica alheia.
Mas inevitavelmente, antes ou depois de mostrar seus textos a outros, um balde de água fria, algum ato que não ia conforme ele imaginara. A decepção invadia e mudava tudo, ele se sentia vazio, seu texto parecia vazio, apenas um amontoado de mentiras dando falsas impressões para quem lia.
Platonicidade distorcida, não conseguia decidir se tudo dava certo em sua mente, e a realidade é que não correspondia ou se era o contrário, e por mais que as pessoas agissem de modo correto, em sua cabeça tudo era caos e decepção.

Foi pensando nisso que ele começou a escrever em terceira pessoa, como se contasse a história de outro, desse modo era mais fácil se abrir, e sentia menos necessidade de se explicar quando seus textos perdessem o sentido.
E enquanto escrevia esse texto ele resolveu não mais ter medo de se decepcionar, afinal a decepção só vinha se, em algum momento, ele tivesse sido feliz.


Nem se importaria tanto com o significado do que escrevesse, ele era tão verdadeiro quanto o leitor quisesse, além do mais, já havia escrito para muitas, e ainda escreveria para outras mais.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sutilmente se encaixe

I could hold your hand and carry you
I could support you trough the winter with only my failed jokes
Could even look back everytime you walked away,
and tell everyone you were the one
And I could find some time to spend watching our sky
Could refuse every paradise they could offer me
Knowing that yours is better, without even proving it

But you should ask yourself what do you really want, cuz I could be perfect,
or I could be true.



guess i'd find the answer under your skin.

sábado, 22 de agosto de 2009

The foolish duck/Quase sem querer

O dia claro e frio, o sol a brilhar.
O reluzir ofuscante da manhã em meus olhos não mais alegra-me por efeito das memórias do teu sorriso, apenas alegra-me inocentemente, melancolicamente - reflexos da tormenta interior a qual eu insisto em considerar resolvida, mas não me convenço totalmente.
Em minha cabeça as expectativas que tive e não realizei parecem grandes demais para suportar, parecem feitas para me convencer a desistir.
Finalmente é chegada a hora fatal, em que o desgaste é irreversível e o certo seria dizer adeus. Inadvertidamente, como eu já esperava, sou tomado pela infinita esperança inerente aos tolos e resolvo insistir, sabendo de antemão os resultados mas, novamente um tolo, iludo-me.
O dia em que tomo tal decisão é também o dia em que dou o braço a torcer, e admito a razão ser subserviente à emoção.
Na hora em que faço isso, subitamente uma música me vem à cabeça, assim como a vontade de te perdoar e de jogar o nosso jogo à sua maneira.

"...tenho andado distraído, impaciente e indeciso. E ainda estou confuso mas agora é diferente, estou tão tranquilo e tão contente..."



Mas também, que chance teria eu com as rosas, se não me acostumasse aos espinhos?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Tiny delights on a bad day

O Anjo dormia tranquilamente ao seu lado. Aquela criatura magnificamente esculpida parecia não saber o que se passara, tão imaculada e alva era sua expressão. A respiração lenta soprava música no ouvido dele e as curvas do lençol mesclavam-se sem pudor com as formas perfeitas do ser perfeito.
O sol brilhando lá fora, chamando um novo dia, com a promessa de ser melhor ainda.
Ela desperta, e em silêncio eles provam mais uma maçã do céu.
Tudo era tão perfeito, e ele mal sabia no que aquilo iria se transformar.
Para então descobrir que até as rosas do paraíso têm espinhos.

"É ser o sorriso no sorriso do outro.
É ser o tempo perdido mais precioso.
É conseguir significar tanto para alguém, independente do seu tamanho.
É saber que lá longe, do outro lado do vidro, do vento, do frio, tem alguém a esperar.
É encontrar nos olhos amados o consolo pros dias ruins,
e saber que ganhou o dia com o conforto alheio.
É encontrar esperança para, mesmo depois que o corpo e os sonhos já se deterioraram, levantar da cama e sentir o sol brilhando, chamando um novo dia, com a promessa de ser melhor ainda.
É o que faz o idoso solitário ter força, ter coragem para sorrir e viver, mesmo sabendo que já passou do auge.
É saber que a recíproca finalmente é verdadeira."

Mas não é.
E fica só a esperança de que um dia tudo vai melhorar.
Desfaz-se o mérito do presente pela sensação de plenitude do futuro.

Me diz o que fazer de errado pra mudar isso.

18 de Agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Título a gente inventa

Coisa boa é poeta apaixonado,
pois pode enfim galantear-se de seu trabalho:
Sabe que a obra é boa quando vê sorrir a mulher amada.

13 de Agosto de 2009

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Epifania de Elias

Estava mais feliz do que nunca.
Queria passar os braços em volta de cada centímetro dela, envolvê-la e protegê-la. Queria tê-la e doar-se. Queria ir devagar.

O ímpeto vinha e passava. Telefonar ou não? Para falar o que? Vasculho minha mente à procura de algo. Só sabia que tinha que lhe falar, mas ainda não havia descoberto o quê. No fundo já sabia o que queria dizer, mas não podia. Haviam combinado ir devagar. Afinal, não podia se abrir assim. Ela não dava sinais de que iria corresponder.

Paciência - Que falta faz nos amantes. Tudo são ímpetos. Arranhões, beijos e coisas mais. Tudo são flores: mãos dadas, carinhos e malícias.
Não, nem tudo são flores. Cada briguinha, cada clima ruim. Fim do mundo.
E lá ficava ele, com o peso na consciência. A mente maquinando mil possibilidades num frênesi auto-incriminador, botando cada vez mais peso sobre seus ombros.
Resolve telefonar. Em sua cabeça tanta culpa que seria capaz de explodir. Ela atende. Atropela mil desculpas de uma vez só. Desliga.
Fica a se odiar ainda mais. O peso que deveria ter sumido dos seus ombros só aumentou, quando pensou em todas as coisas que poderia - deveria - ter dito, e não disse. O semblante fechado, e a paisagem já não importa mais. Não, nem tudo são flores.
Lembrou do tempo em que a tinha constantemente, sem essas malditas inconveniências da vida moderna. Maldita distância. Malditos horários. Malditas responsabilidades.

Jogar tudo pro ar, fugir de tudo isso. Pra poder enfim se entregar. Afinal, se tivessem um ao outro como antes, qual o problema de se apressar as coisas? De se repetir nas mesmas conversas, rir das mesmas piadas, encontrar os mesmos desenhos nas nuvens?
Te encontrar nos mesmo lugares. Os mesmos olhares. As mesmas risadas e censuras.
As risadas de cada vez que ela me proíbe o paraíso.
E de convencê-la denovo e denovo.
Abre um sorriso e deixa o sol te esquentar. Pra jogar fora toda a culpa e lembrar daquela sexta-feira embriagada. Só nossa.

19:19

E a cada dia a soja lhe parecia mais importante, e Elias ria-se do tempo em que as plantinhas é que dominavam sua mente. Estava mais feliz do que nunca.

Quisera as sojas viessem ler, e despir-se da rotina assim como de uma roupa qualquer, visto que são apenas simples obstáculos para o paraíso.

sábado, 8 de agosto de 2009

p/ M.J.

Ele sabia que não queria, mas algo mais forte obrigou-o a continuar sentado, o olhar fixo naquela tela.
Milhares de casais passaram em sua frente, cada um com suas caras e bocas. Cada um com seus problemas.
Em cada casal da tela, era sempre igual. As risadas, as brigas, o fogo. As brigas. Subitamente teve medo: até aí sua vida estava igual à dos filmes. Mas de repente quis se libertar. Não queria passar pelo mesmo. Acreditava na irreversibilidade da vida. Ou pelo menos queria acreditar. Se duas pessoas brigam, é um desgaste. Mas há uma hora em que o desgaste chega a tal ponto que não há como voltar. E ele sabia que um dia chegaria sua vez. Sabia também que, quando a hora chegasse, não seria capaz de dizer adeus.
Dali pra frente, ele já sabia o que aconteceria, já vira milhares de vezes, insistiria numa relação falida.
A solidão, o frio, de repente sentiu-se desamparado. A vontade veio. Foi até o armário, tirou uma pilha de roupas. No fundo, o maço. Estava lá, como se estivesse esperando-o há muito tempo. E estava.
Abriu o maço e ficou olhando, pensando em suas fraquezas e em como reagiria quando fosse a sua vez de dar as costas a uma garota. Não conseguiria, e sabia que esse medo iria persegui-lo e impedi-lo de se entregar.
Quando percebeu, o cigarro já estava aceso e a fumaça subia tranquilamente. Como nos velhos tempos.
Mas ele não queria os velhos tempos, queria mudar, aprender novamente a se doar - e a aproveitar. Apagou o cigarro, enquanto se decidia. Em sua mente, as palavras ecoavam claramente:
"Não posso mais temer o previsível, preciso preencher cada espaço do que ainda não foi planejado e aproveitar, mesmo que por pouco tempo, a eternidade do teu sorriso e a infinidade das tuas curvas, o nosso pra sempre em um piscar de olhos."

E eu preciso parar de pensar.

05 de Agosto de 2009