terça-feira, 30 de junho de 2009

Inflame

Sentado aqui, ao teu lado, mas ao mesmo tempo a anos-luz de distância. Malditas dúvidas.
Imagine como é acordar todos os dias, ver o sol nascer e morrer em um local assim. Eu não me importo mais, já cansei das decepções, da dor de nunca estar à altura das expectativas - as quais parecem aumentar à medida que meu esforço e meus êxitos aumentam.
Estaria tudo bem, se eu fosse(ou pensasse ser) o único a passar por isso. Mas não sou, e te ver assim me aflige muito, minha impotência para mudar isso, mais ainda. Como te fazer rebelar contra teus próprios valores?

"Passou a vida toda em tal torpor
Que nem no próprio velório ela chorou
Mesmo depois de tanto horror
Nem em seu fim, por pena, ele a aprovou."

Revolte-se, inflame e não tenha medo, ou então me ensine a te ajudar, a ser teu porto seguro nas horas tristes, e me diga que estou ali, na ponta do seu sorriso, nas horas boas, naquela música de final da tarde que te faz olhar pra trás com alegria e não ter medo da noite que se achega.
E novamente as dúvidas se achegam, como a sujeira atrás da porta. Será que eu tenho força pra isso? Será que terei uma chance de tentar? Melhor eu voltar pra poesia, onde tudo funciona e eu disfarço pieguice com hipocrisia.

"Há uma flor em meu jardim
de beleza e harmonia singulares
não é rosa nem jasmin
Já não carece classificares

Faz pouco tempo é só
mas não pára de cantar
canta uma cantiga qualquer
distraída ao vento
sussura um bem-me-quer"

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Dilemas de um futuro bom

E num segundo ela surgiu
encheu os olhos, os sentidos,
como nunca se viu
e no outro instante,
fugiu.

Mas na memória
ficou ele a imaginar
a mais bela história
a qual ele jamais poderia contar.

Muitas horas passei
mil palavras sonhei
num fluxo difuso
em cada cena, cada sorriso, divaguei
mas a narrá-las, me recuso.

Talvez se um dia,
em meio à folia
possa eu ter uma chance
de te mostrar o mundo lá fora
te peço, não vá embora
apenas fique aqui, e comigo dance.

Deixe a corrente te levar
quando as pessoas surgirem
não tenha medo de as usar
não veja isso como um crime
e se você valer à pena?
eis aí nosso dilema:

Não sei te convencer a me usar
e tua imensa pureza
só vai fazer me apaixonar

E se já estou perdido
por que não comigo se perder?
Me ame de volta, enquanto eu te amar
ou não ame, e me deixe a sofrer.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Por hoje

Passe,
mas passe devagar.
Me abraçe,
e deixe contigo eu caminhar.
Ame,
ou apenas me deixe te amar.

Hoje, amanhã ou nunca mais.

Que sempre ao te ver passar
com o vento a embalar
rodada saia de moça
brincando na rua
ouço o canto ao longe,
lembrança tua

que despertou em mim
calma para ouvir,
vontade de escrever
alegria para sorrir
e hoje querer
ir contigo até o fim

no infinito infinitivo.

Mas passe devagar
que sofreguidão desmesurada
finda em paixão despedaçada
e o 'nunca mais' vai assombrar
minhas noites, súplicas e despedidas.
Mas com calma, ele jamais há de chegar
sem o adeus definitivo.

Passe,
me abraçe,
ame,
mas por hoje não se vá.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

das tramóias e desilusões de um dia de sol.

Vim aqui ver isso hoje.
ver a quantas anda a agenda
os planos pra hoje, amanhã e pra sempre.
tudo o que eles dizem é que no final tudo se emenda
tudo se ajeita.

mas como fazer pra espremer aquela gotinha?
aquele mínimo grão
que transformaria em algo mais
a minha inspiração
no final, não olhe para trás

não sem saber, com certeza
se foi bom, se vai sorrir ou chorar
ou se vai sequer corar
ao saber que ali, no meio da estante
atrás daquele monet xerografado
há ainda um guerreiro restante

pra animar a sua quinta feira,
sua sexta, sábado ou até domingo.

e a poesia? morta?
mortos estão os poetas
os verdadeiros poetas,
há muito enterrados por seus intérpretes
que hoje desdenham
sorriem num frênesi de destruição
de desapego às regras
enquanto pisoteiam as obras de salvação

cansei das refregas
não mais luto em prol disto ou daquilo
o que me interessa agora é sair desta estante
fiquei preso por tempo demais neste instante
vou é sorrir em júbilo ao perceber
que nem todas as suas frustações
te fariam me receber
e que o tolo fui eu, por esperar salvação
ao invés de rasgá-la de meus planos
e me contentar com a acolhedora solidão

os estragos já foram feitos
e o que trago, é para efeito
na vida, na mente ou para ilusão.
não vou olhar pra trás, sorrir ou corar
a guerra acabou, e o guerreiro já chorou.
e o que passou, passou.

3 de junho de 2009